quinta-feira, 5 de julho de 2007

ARTIGO


Nenhum homem é uma ilha


Um dos benefícios que todo e qualquer tipo de crise traz à tona é um olhar reflexivo sobre a sua origem, conseqüências, responsabilidades e, principalmente, soluções. A crise ética no Brasil, especialmente na área política, ao mesmo tempo que traz sempre um fato novo, assemelha-se às telenovelas – literalmente: o povo brasileiro já sabe que não precisa acompanhar todos os capítulos para saber o final. E isso é por demais lamentável.


Esse entorpecimento no qual todo o cidadão se encontra – independente de sua esfera de atuação e classe social está associado à famosa frase do filósofo inglês, Thomas Morus, o qual sabiamente conclui que "nenhum homem é uma ilha". Ou seja, para compreender a engrenagem da corrupção brasileira, e das nossas limitações éticas e morais, precisamos compreender, antes de mais nada, que a vida humana é convívio. Para o ser humano viver é conviver.


São as inter-relações que realizam um ser moral e ético. Ou seja, somos um País que já está por demais acostumado com misérias de qualquer ordem. Parecemos agir por força do hábito, da nossa cultura, do nosso "jeitinho" brasileiro – burlar uma fila, sonegar impostos, além de tentar tirar vantagem em ínfimos detalhes, usando a conhecida "lei de gerson".


Essas pequenas artimanhas se entranham de uma maneira tal nos nossos costumes que nos sentimos autorizados a aceitar pequenos delitos. Parece que a ética pessoal de cada um de nós incorporou uma "fita métrica", um medidor de caráter permissivo. Naturalizamos a injustiça e consideramos normal conviver com crianças nas sinaleiras, com os pequenos subornos, com as indignas filas do SUS, com a exploração da mão-de-obra infantil, com os mendigos nas ruas, com as agressões internas e externas tais como a violência doméstica, e os indignos sofrimentos de fome e de frio.


Fraudes, violência e corrupção não saem mais do nosso vocabulário e do dia-dia dos noticiários. Na vida pública, então, maus exemplos é que não faltam. E o telhado de vidro tem sua razão de ser: parlamentares e governantes são representantes dessa "ilha" e, portanto, devem exemplo àqueles que confiaram o seu maior potencial como cidadão: o poder de voto.


Para mudar o final dessa novela de malefícios sociais, precisamos centrar nossa atenção ao primeiro capítulo, à essência de tudo isso que, inegavelmente, é a crise ética. Como parlamentar, jornalista e, acima de tudo cidadão, convoco a sociedade a repensar que tipo de ilha queremos para nós e para as futuras gerações.

Dep. Estadual Paulo Borges