quinta-feira, 20 de junho de 2013

O Governo do Estado e seus projetos de lei inconstitucionais

Por Marcelo de Vasconcellos Schramm*

Eleito em outubro de 2010, o governo de Tarso Genro vem apresentando ao longo de seu mandato diversas contradições e decisões, no mínimo, contestáveis. Poderíamos começar pelas inúmeras promessas de campanha não cumpridas, mas este artigo deve se ater à questão dos Projetos de Leis que tiveram inconstitucionalidades apontadas, tanto pela oposição ou admitidas pela própria base do governo.

Em 28 de junho, após uma longa votação que varou a madrugada daquela quarta-feira, a Assembleia Legislativa aprovou todos os projetos do Plano de Sustentabilidade Financeiro, o chamado “Pacotarso”. Entre os projetos que estavam há apenas um mês tramitando na casa, encontrava-se aquele que modificava as alíquotas para contribuição previdenciária no Rio Grande do Sul. Os deputados de oposição solicitaram a retirada da pauta e alegaram inconstitucionalidade no texto da lei, mas não foram acatados pelos parlamentares da base aliada.

Mais tarde, o Tribunal de Justiça do RS, por unanimidade de votos, declarou liminarmente a inconstitucionalidade dos artigos 11 e 12 das Leis Complementares Estaduais números 13.757 e 13.758, que fixavam o reajuste das alíquotas previdenciárias entre 11 e 14%, aplicando redutores para os que recebem menores salários.

A justificativa para tal ato, foi de que como estavam determinadas as alíquotas, apontavam caráter confiscatório e não havia cálculo atuarial para os índices fixados na lei. As mesmas foram tomadas de modo aleatório, à míngua de estudo atuarial consistente e confiável. Além disso, somando-se aos atuais impostos já pagos, a alíquota de 14%, levaria à insuportabilidade econômico-financeira, em flagrante desafeição ao princípio da razoabilidade, na medida em que acabam por retirar do contribuinte recursos indispensáveis à satisfação de suas necessidades básicas, o mínimo vital.


Outro caso de grande discussão foi o envio ao legislativo, por parte de Tarso Genro, do Projeto de Lei que criava cargos em comissão em diversas repartições do Estado. Desde sempre contrário à criação de “Cargos de Confiança”, o governador, enviou o PL em regime de urgência à Assembleia Legislativa, forçando os parlamentares a deliberarem sobre o tema em no máximo 30 dias. Mas, mediante uma ADIN ( Ação Direta de Inconstitucionalidade), a oposição fez um alerta sobre as imperfeições e dúvidas contidas no texto da lei. Motivados por esta ação e de forma unânime, em 22 de agosto de 2011, os 25 desembargadores do Órgão Especial do Tribunal de Justiça (TJ) consideraram inconstitucionais 155 CC's criados no primeiro semestre daquele ano.

O relator do processo, desembargador Armínio José Abreu Lima da Rosa, justificou a ilegalidade ao citar que os cargos afrontam a lei por não se caracterizarem como funções de direção, chefia ou assessoramento. Os seis projetos de lei que criaram as funções ainda não descreviam as atribuições dos contratados.

"A regra é o provimento dos cargos mediante concurso público", ressaltou o desembargador, reforçando que as exceções devem ocorrer somente no exercício de postos de direção, chefia ou assessoramento.

Em junho de 2011 o partido DEMOCRATAS protocolou, no Tribunal de Justiça do RS, uma ADIN contra a criação de 200 cargos em comissão, criados pelo governador Tarso Genro. Tendo em vista o artigo 20 da Constituição Estadual, a criação de cargos administrativos deve acontecer via concurso público onde se prevê o detalhamento das atribuições de cada cargo e não por nomeação política como fez o governador, assim que assumiu o Piratini.
Na época da votação do PL em regime de urgência, o Deputado Paulo Borges apresentou 6 emendas para que o Governo apresentasse edital de realização de concurso público em 180 dias. Porém, como o Governo tem a maioria numérica dos deputados na base aliada, as emendas foram derrubadas e nem chegaram a ser votadas em Plenário.

Estes são apenas alguns exemplos dos desmandos de um governo que recebeu a confiança do povo, através do voto, mas não honra com seus deveres legais e morais. Por isso, um dos meus principais compromissos no parlamento como oposição, é fiscalizar as ações do executivo, sempre com coerência e responsabilidade. E o que vejo diariamente na inoperância total do governo e no discurso vazio de sua base aliada na Assembleia, me leva a concluir que o Governador cometeu um verdadeiro estelionato eleitoral (estelionato = ato de induzir ou manter em erro alguém mediante fraude ou artifício, em prejuízo alheio).

Após passar sete anos no primeiro escalão do governo federal, Tarso se inspira livremente na administração do ex-presidente Lula, mas até agora seu governo não disse a que veio. Mantém um Conselhão que não dá certo, ignora às reivindicações do MST e CPERS - movimentos que historicamente apoiam o PT, só dá emprego aos companheiros do partido e “patrola” a oposição. 
Sua proposta de diálogo é apenas um jogo de cena. Tarso não debate com o Parlamento e nem com a sociedade. Está apenas falando sozinho.



*Coordenador da Bancada do DEMOCRATAS - Assembleia Legislativa / RS
 

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